Metamorfose

Estive pensando nas diversas vezes que por besteira reclamei, chorei, martirizei minha alma. Felicidade sempre foi um quesito essencial em minha vida e por certos momentos declamei não tê-lo. Entretanto hoje paro e é como se o espelho mágico da madrasta da Branca de Neve mostrasse a mim o mundo real. Têm pessoas que não foram crianças, nunca escutaram um “era uma vez” antes de dormir, não desejaram ir parar no Sítio do Pica Pau Amarelo para brincar com o pó de pirlimpimpim da Emília, não sonharam morar na Terra do Nunca, não comemoraram aniversários e ainda, acredite se quiser, são felizes. Alguns passaram fome, tiveram pais ausentes ou que os agrediam verbalmente e fisicamente e não são revoltados. Eles conseguem sorrir com mais frequência que eu, que tive uma criação totalmente oposta. Enquanto eu curtia o “Ilariê” da Rainha dos Baixinhos, ria das peripécias do menino maluquinho e encantava-me com o fantástico mundo de Bob, crianças próximas dali não contavam os dias para a chegada do Papai Noel, nem exibiam na escola os novos brinquedos que ganhaste num fim de semana qualquer. Lembro que anos atrás quando às vezes assistia “Domingo Legal” na época apresentado pelo Gugu Liberato, exibia algumas histórias tristes, de pessoas sem condições. Naqueles domingos, adolescente que era, acreditava que cenas como aquelas eram armações, tudo combinado. Agora, com um pouco mais de maturidade, vejo que, infelizmente, tudo é real. No auge da adolescência quando eu começava a conhecer a obra machadiana, já refletia com os contos de Clarice Lispector e suspirava com os poemas de Florbela Espanca, alguns começavam a conhecer os encantamentos da Disneylândia. Começo a enxergar que tenho que levantar as mãos para o céu e agradecer por todas as oportunidades que tive e que na verdade ainda tenho. Depois de ouvir histórias de quem não teve uma infância de ir ao parque, ao circo, nem sonhava em ser super herói, que sofreu maus tratos, percebi que não tenho direito de sofrer por que fulano não quer me dar apenas um abraço. Não posso compulsivamente chorar por conta de tropeços na vida, que no futuro nem um arranhão vão deixar. E sabe por quê?! Porque pessoas que passaram tudo que já citei, brincam, riem e fazem piadas, como disse são felizes, dando uma lição em mim que tive tudo e só porque em certos pontos faltam-me algumas coisas, digo que sou a pessoa mais infeliz e odiada do mundo. Chegou a hora de crescer e ver que um mundo como “Bambuluá” não existe. Hora de erguer a cabeça e encarar os problemas como adulto. Afinal os bons tempos, pena que não para todos, de infância no quintal da vovó já passou e, infelizmente, não voltam mais.

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