Alguém, por favor?!
Hoje eu queria o colo de um estranho, desses
que a gente conhece no ponto de ônibus, em uma praça esquecida ou na fila do
pão, queria alguém que tivesse duas horinhas livres, que permanecesse em
silêncio prestando cuidadosamente atenção em cada pedaço das minhas histórias meio sessão da tarde, queria
alguém que não tivesse um monte de conselhos ensaiados na ponta da língua e
frases de efeito que até eu já decorei, não preciso de um livro de autoajuda
ambulante, nem de um amigo metido a psicólogo tentando entender minhas dores, quero
só um desconhecido que me deixe desabar as palavras clichês e as frases
confusas, alguém que fique sem saber o que dizer quando eu terminar, mas possa me
dar um abraço sincero e um colo seguro, alguém que sinta minhas dores na
intensidade de cada silaba pronunciada, que pegue para si um pouquinho dessa
dor só pra ver meu peito um pouco mais leve, quero alguém que saiba fazer
cafuné, que possa chorar comigo sem ter um milhão de julgamentos prontos,
alguém que como eu não saiba o que fazer, porque não tem, sabe?! É só o tempo
que pode tratar dessas feridas, mas esse clichê já vem escrito, ninguém precisa
me dizer. Hoje eu só queria encontrar um desconhecido, alguém que não soubesse o
que dizer, mas que tivesse o ouvido disponível pra me ouvir desabafar toda essa
angustia presa aqui dentro.
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