Está demorando eu te esquecer
Nossos olhares se cruzaram. Ficamos nos olhando durante um
minuto. Sim, eu contei cada segundo. Sabe quando a boca ri sozinha? Então,
aconteceu comigo. Você se aproximou. Deu um sorriso tímido e ofereceu a
cerveja, que ainda estava fechada na sua mão. “Eu não bebo”, falei. Abaixei a
cabeça e ao levantar, nossos olhares se encontraram de novo. Perguntei seu
signo. “Faz diferença? Não acredito em astrologia”, respondeu você. Dei meu
sorriso mais frouxo, sem perder o mistério.
A gente se
distraiu, se divertiu, se encontrou e, principalmente, desencontrou. Vivemos.
Experimentamos. Erramos, mesmo querendo acertar. Eu quis acertar. Se você não
quis, tudo bem. O grande problema é que você é raso e eu sou totalmente
profundidade. Já cheguei a ponto de aceitar qualquer coisa para estar junto de
alguém. Não faço mais isso. Prefiro sofrer com o fim. Melhor sentir essa dor
intensa, que chega a ser física, do que me comunicar em vão por mensagem
subliminar ou sinal de fumaça. Não quero sentir sua falta, mas sinto. Estava
tão mais fácil antes de cruzar o olhar com o teu. Engraçado que naquele dia
deixamos claro que não ia passar de ficar. Não queria me apaixonar, muito menos
me entregar. “Não era para ser tão bom”, cheguei a dizer, quando percebi que
tudo estava ficando meio caótico. Acho que sempre foi caos, desde o primeiro
olhar. Andei perdido, andei fora da linha e fiquei meio sem saber por onde ir,
porque não fazia parte dos meus planos querer você aqui.
Sei que a
dor é inevitável, que isso não tenho como controlar, mas o sofrimento é opção.
Minhas amigas dizem que abraço a sofrência, mas o lance é que fujo de todos os
lugares comuns a solteirice. Tenho preguiça de balada, música alta, lugar cheio.
Meu negócio é teatro, leitura, cinema, televisão. E claro que fica difícil
ficar bem de um dia para o outro, ouvindo Maria Bethânia, no repeat, cantando
sua linda versão de “É o amor”. Acho até que me prefiro frágil do que animadão.
Mas no meio
dessa bagunça toda, vou te esquecendo. As lembranças começam a não doer. Desde
que saiu pela porta do shopping, onde nos vimos pela última vez, não sei da sua
vida. Não visito seus perfis, não sei onde passou o último fim de semana e nem
se ainda fica bem usando aquela blusa azul. Caio Fernando Abreu escreveu: “Acalma
esse coração, pequena, que desespero nunca resolveu o problema”. Por isso, não
olho mais nada seu. Acalmei o coração e sigo distraído. Afinal, não dizem, que
a vida acontece quando estamos distraídos? Tudo tem um fim. Tudo. A sorte, a
escola, o dinheiro, o talão de cheque, aquela série que a gente assiste, o show
do nosso artista preferido e até o amor, a paixão, a relação. Acabou. Sinto
falta, entretanto não deu certo. Acontece. Eu te quis tanto, mas não deu certo.
Melhor, deu certo mesmo não sendo eterno. Sempre estive de peito aberto, para a
dor e para o amor, pois acredito que isso é viver. Eu vivi. E fui embora para
continuar vivendo. Fui embora para te esquecer. Sendo que o esforço de esquecer,
acaba sendo a vontade de lembrar.
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